Conhecimento Essencial é um convite para investigar aquilo que nos define e, ao mesmo tempo, nos escapa: a própria consciência. Entre ciência, filosofia, religião e experiência, buscamos explorar as perguntas que atravessam a existência humana — O que somos? O que significa estar presente no mundo? Onde termina o corpo e começa a mente? Há limites para aquilo que podemos conhecer sobre nós mesmos e o que nos cerca?
Partimos do que já se sabe, mas é no terreno do não sabido que o caminho se abre. Atravessamos estudos, teorias e vislumbres sobre a relação entre mente, corpo e realidade, reconhecendo que o conhecimento mais essencial pode não estar apenas nas respostas, mas na maneira como habitamos as perguntas.
As reflexões sobre a consciência1 e seus processos decorrentes talvez remontem à antiguidade. Seus domínios são vastos e a grande dificuldade em abordá-la a partir de uma perspectiva científica ainda parece intransponível. Atualmente, os agentes qualificadores de experiências conscientes, vivenciáveis em níveis subjetivos, não guardam correlatos claros com os processos de natureza biofísica, fisiológica, molecular, orgânico sistêmica, bem como com sistemas de qualificação e quantificação utilizados atualmente pelo método científico (MANDELLI, 2018).
Esta série de artigos vai procurar traçar algumas considerações sobre as dificuldades em reduzir o fenômeno da experiência consciente a leis puramente mecanicistas, bem como suscitar questões transversais acerca de como o complexo mente-consciência2 é capaz de recriar o mundo a partir dos mecanismos da percepção e gerar novas possibilidades, cujos objetivos primordiais são transformar e organizar a realidade apreendida retratada nas experiências mais comuns do cotidiano.
Questiona-se também sobre qual o “lugar” da consciência em relação à realidade que nos cerca: ela é apenas um efeito dos infindáveis processos neurais que ocorrem a cada instante no cérebro ou seu lugar na Natureza tem um papel muito mais fundamental do que imaginamos? Apesar de todo o desenvolvimento e efetivação da capacidade humana na ciência, através de seus formalismos e da tecnologia, a partir de seus artefatos cada vez mais complexos, a realidade observada não é apreendida de forma direta e passiva; é abstraída e ativamente interpretada a cada instante pelas estruturas e organização presentes no cérebro.
Assim, pode-se argumentar que a consciência cria, a todo instante, o mundo e seus objetos. Desde as mais básicas percepções processadas em nosso sistema nervoso passando pelos movimentos do corpo, chegando às elaborações mais abstratas da capacidade humana, estamos, a cada instante, alterando e sendo alterados através das relações com o ambiente a nossa volta. É o nosso conhecimento essencial, sobre quem somos (ou quem estamos?) e o mundo (ou mundos) a(os) qual(is) pertencemos!
- “qualquer coisa de que estejamos cientes num determinado momento faz parte de nossa consciência, tornando a experiência consciente de uma só vez, o aspecto mais familiar e mais misterioso de nossas vidas”. The Stanford Encyclopedia of Philosophy online. A definição de consciência apresentada aqui é temporária e que será reelaborada ao longo do trabalho. ↩︎
- Termo cunhado pelo autor para designar a relação profunda entre os dois conceitos e que muitas vezes se confundem em boa parte da literatura. Ao longo dos artigos será apresentada uma proposta para diferencia-los e posiciona-los de acordo com o delineamento da pesquisa. ↩︎